segunda-feira, março 06, 2006

CONSCIÊNCIA E CURA

O que terá a ver a Consciência com a Cura? Somos prevenidos e pagamos os nossos planos de saúde; quando estamos doentes vamos ao médico ou tomamos um remédio; se a coisa piora buscamos um tratamento alternativo ou uma cura espiritual. Onde entra a Consciência?

Regra geral, ainda vemos a cura como uma intervenção externa e não como um processo de auto correcção interno. Muitas vezes defendemos uma teoria holística maravilhosa, corremos atrás de um “bom” especialista ou de um diagnóstico “confiável” nos momentos de crise, mesmo sem fé no velho paradigma que sustenta tudo isso.

Se a Consciência é o que ressalta neste milénio, porque temos tanta dificuldade em integrar este conceito na nossa vida prática? Porque hesitamos tanto em reconhecer que possuímos um poder fantástico dentro de nós, que é tempo de aprender a utilizá-lo? Atribuímos o poder de curar ao psicoterapeuta, ao médico, aos remédios, ao curandeiro, aos espíritos, aos gurus, mas não damos conta que somos nós que autorizamos a nossa própria cura, venha ela de onde vier. Quando o paciente não se quer curar, não adianta qualquer método ou intervenção terapêutica. Significa isto, então, que existe uma instância de auto consciência que diz sim ou não, seja à cura, seja à doença.

Sobre este potencial que todos nós possuímos, disse um dia o médico espiritualista Albert Schweitzer: “Cada paciente tem o seu próprio médico dentro de si. Este paciente procura-nos sem saber dessa verdade. O melhor que fazemos é dar ao médico que reside dentro de cada paciente a chance de trabalhar”.

Este “médico interno” é a Consciência. Colocá-lo a trabalhar é tirar o ego do comando e entregar tudo àquela instância misteriosa que alguns chamam de Providência Divina, outros de inconsciente e outros ainda de “cura quântica”. Nomes diferentes para uma só realidade. Mas, em qualquer um dos casos, é muito difícil essa entrega. Exige de nós nada menos do que uma mudança radical de visão.

Quando o “movimento” Transpessoal se expandiu para além dos muros universitários americanos, na década de 70, seu método incorporou o conhecimento de antigas tradições orientais e, ao mesmo tempo, encontrou apoio teórico nas modernas descobertas da física quântica. Aquilo que os místicos de todos os tempos diziam a respeito da união com Deus, os neuro cientistas confirmavam falando sobre a integração entre os dois hemisférios cerebrais, sobre o “salto quântico” do pensamento, sobre o caminho hormonal das emoções, etc. Na confluência das duas linguagens, a Transpessoal teve o mérito de sistematizar vivências que poderiam facilitar o difícil percurso que vai da consciência pessoal e individual a uma instância muito mais abrangente e totalizante, que vai além da pessoa, do indivíduo, do ego.

O que é que tudo isto tem a ver com Cura? Tudo! Pois, o maior problema que encontramos para colocar em acção a Consciência curadora que somos é, justamente, o obstáculo representado pela “pequena’ consciência do ego com o qual nos identificamos, e que “pensa” que não sabe, que não pode, que não é capaz, que é perigoso, que o outro é que sabe, que pode dar errado, e por aí...
O nosso trabalho é ir conduzindo essa “pequena” consciência a um questionamento de seus padrões auto limitantes, mudando o enfoque narcisista da imagem de seu ego, trazendo outras realidades muito mais gratificantes à percepção de si mesmo até ao momento mágico do Oh! Existe algo maior em mim! Eu não sou só isto! Eu sou muito mais do que isto! Eu posso! Eu quero! Eu Sou!


Mas, percebam que em todos esses momentos o Eu que se manifesta é um Eu maior, o Eu Divino. Nesse domínio predominam valores maiores como a compaixão, a tolerância, a serenidade, a solidariedade, o amor, a beleza, a gratidão, a saúde. Esse é o momento da emergência da Consciência (com C maiúsculo). É nítida a diferença da realidade definida pelo nosso “pequeno” eu: egoísmo, intolerância, rivalidade, competitividade, inveja, medo, rancor, sofrimento. A sensação é ou de absoluta impotência ou de absoluta omnipotência. Ambas irreais.

Talvez agora fique mais clara a relação que faço entre a Consciência e a Cura. Entendo que a verdadeira Cura é a emergência da Consciência em nós. Quando Ela nos toma, passamos para uma outra dimensão. Somos curados de nós mesmos.

Mani Alvarez
Psicanalista de orientação Transpessoal

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