sexta-feira, junho 30, 2006

A SENTENÇA CRISTÃ

Um juiz cristão, rigoroso nas aplicações da lei humana, mas fiel no devotamento ao Evangelho, encontrando-se no meio de uma sociedade corrompida e perversa, orou, implorando a presença de Jesus.

Porque proferia diariamente muitas sentenças condenatórias, endurecera-lhe o coração.

Atormentado, porém, entre a confiança que consagrava ao Divino Mestre e as acusações que se acreditava compelido a formular, rogou, certa noite, ao Senhor, lhe esclarecesse o espírito angustiado.

Efectivamente, sonhou que Jesus vinha desfazer-lhe as dúvidas aflitivas. Ajoelhou-se aos pés do Amoroso Amigo e perguntou:

– Mestre, que normas adoptar perante um homicida? Não estará logicamente incurso nas penas legais?

O Cristo sorriu, de leve, e respondeu:

– Sim, o criminoso está condenado a receber remédio correctivo, por doente da alma.

O juiz considerou estranha a resposta; contudo, prosseguiu indagando:

– Como agir, ante o delinquente rude, Senhor?

– Está condenado a valer-se de nosso auxílio, através da educação pelo amor paciente e construtivo – explicou Jesus, bondoso e calmo.

– Mestre, e que corrigenda aplicar ao preguiçoso?

– Está condenado a manejar a enxada ou a picareta, conquistando o pão com o suor do rosto.
– Que farei da mulher pervertida? – Interrogou o jurista, surpreso.


– Está condenada a beneficiar-se de nosso amparo fraterno, a fim de que se reerga para a elevação do trabalho e para a dignidade humana.

– Senhor, como julgar o ignorante?

– Está condenado aos bons livros.

– E o fanático?

– Está condenado a ser ouvido e interpretado com tolerância e caridade, até que aprenda a libertar a própria alma.

– Mestre, e que directrizes adoptar, ante um ladrão?

– Está condenado à oficina e à escola, sob vigilância benéfica.

– E se o ladrão é um assassino?

– Está condenado ao hospício, onde se lhe cure a mente envenenada.

O magistrado passou a meditar gravemente e lembrou-se de que deveria modificar todas as peças do tribunal, substituindo a discriminação de castigos diversos por remédio, serviço, fraternidade e educação. Todavia, não se sentindo bem com a própria consciência, endereçou ao Senhor suplicante olhar, e perguntou, depois de longos instantes:

– Mestre, e de mim mesmo, que farei?

Jesus sorriu, ainda uma vez, e disse, sereno:

– O cristão está condenado a compreender e ajudar, amar e perdoar, educar e construir, distribuir tarefas edificantes e bênçãos de luz renovadora, onde estiver.

Nesse momento, o juiz acordou em lágrimas e, de posse da sublime lição que recebera, reconheceu que, dali em diante, seria outro homem.

In: “ALVORADA CRISTÔ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

quinta-feira, junho 29, 2006

A LENDA DO DINHEIRO

Conta-se que, no princípio do mundo, o Senhor entrou em dificuldades no desenvolvimento da obra terrestre, porque os homens entregaram-se a excessivo repouso.

Ninguém se animava a trabalhar. Terra solta amontoava-se aqui e ali. Minerais variados estendiam-se ao léu. Águas estagnadas apareciam em toda a parte.

O Divino Organizador pretendia erguer lares e templos, jardins-de-infância (educandários) e abrigos diversos, mas... com que braços?

Os homens e as mulheres da Terra, convidados ao suor da edificação por amor, respondiam:

– “Para quê?” E comiam frutos silvestres, perseguiam animais para os devorar e dormiam sob as grandes árvores.

Após muito reflectir, o Celeste Governador criou o dinheiro, adivinhando que as criaturas, presas da ignorância, se não sabiam agir por amor, operariam por ambição.

E assim aconteceu.

Tão logo surgiu o dinheiro, a comunidade fragmentou-se em pequenas e grandes facções, incentivando-se a produção de benefícios gerais e de valores imaginativos.

Apareceram candidatos a toda espécie de serviços.

O primeiro deles pediu ao Senhor permissão para fundar uma grande olaria. Outro requereu meios de pesquisar os minérios pesados, de maneira a transformá-los em utensílios. Certo trabalhador suplicou recursos para aproveitamento de grandes áreas na exploração de cereais. Outro, ainda, implorou empréstimo para produzir fios, de modo a colaborar no aperfeiçoamento do vestuário. Servidores de várias procedências vieram e solicitaram auxílio financeiro destinado à criação de remédios.

O Senhor a todos atendeu com alegria.

Em breve, olarias e lavouras, teares rústicos e oficinas rudimentares, improvisaram-se aqui e acolá, desenvolvendo progresso amplo na inteligência e nas coisas.

Os homens, procurando ansiosamente o dinheiro, a fim de se tornarem mais destacados e poderosos entre si, trabalhavam sem descanso, produzindo tijolos, instrumentos agrícolas, máquinas, fios, óleos, alimento abundante, agasalho, calçados e inúmeras invenções de conforto, e, assim, a terra menos proveitosa foi removida, as pedras aproveitadas e os rios canalizados convenientemente para a irrigação; os frutos foram guardados em conserva preciosa; estradas foram traçadas de norte a sul, de leste a oeste e as águas receberam as primeiras embarcações.
Toda a gente perseguia o dinheiro e guerreava pela sua posse.


Vendo, então, o Senhor que os homens produziam vantagens e prosperidade, no anseio de posse, considerou, satisfeito:

– Meus filhos da Terra não puderam servir por amor, em vista da deficiência que, por enquanto, lhes assinala a posição; todavia, o dinheiro estabelecera benéficas competições entre eles, em benefício da obra geral. Reterão provisoriamente os recursos que me pertencem e, com a sensação da propriedade, improvisarão todos os produtos e materiais de que o aprimoramento do mundo necessita. Esta é a minha Lei de Empréstimo que permanecerá assentada no Céu.

Cederei possibilidades a quantos mo pedirem, de acordo com as exigências do aproveitamento comum; todavia, cada beneficiário apresentar-me-á contas do que houver despendido, porque a Morte os conduzirá, um a um, à minha presença. Este decreto divino funcionará para cada pessoa, em particular, até que meus filhos, individualmente, aprendam a servir por amor à felicidade geral, livres do grilhão que a posse institui.

Desde então, a maioria das criaturas passou a trabalhar por dedicação ao dinheiro, que é de propriedade exclusiva do Senhor, da aplicação do qual cada homem e cada mulher prestarão contas a Ele mais tarde.

In: “ALVORADA CRISTÔ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

terça-feira, junho 27, 2006

O BARRO DESOBEDIENTE

Houve um oleiro que chegou ao pátio de serviço e reparou com alegria em pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor viva com que se apresentava e falou:

– Vamos! Farei de ti delicado pote de laboratório. O analista alegrar-se-á com o teu concurso valioso.

Imensamente surpreendido, porém, notou que o barro retrucava:

– Oh! Não, não quero! Eu, num laboratório, tolerando precipitações químicas? Por favor, não me toques para semelhante fim!


O oleiro, espantado, considerou:


– Desejo dar-te forma por amor, não por ódio. Sofrerás o calor do forno para que te faças belo e útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho, transformar-te-ei numa caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes.


– Oh! Nunca! nunca!... – Exclamou o barro – isso não! Estaria exposto ao prazer dos inconscientes. Não estou inclinado a suportar essências, através de peregrinações pelos móveis de luxo.


O dono do serviço meditou muito na desobediência da lama orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança do Céu, ponderou:


– Bem, converter-te-ei, então, num prato honrado e robusto. Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás connosco e serás companheiro de meus filhinhos.


– Jamais! – Bradou o barro, na indisciplina – isso seria pesada humilhação... Transportar arroz cozido e aguentar caldos gordurosos na face? Assistir, inerme, às cenas de glutonaria em tua casa? Não, não me submetas!...


O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e acrescentou:


– Modificaremos o programa ainda uma vez. Serás um vaso amigo, em que a límpida água repouse. Ajudarás aos sedentos que se aproximarem de ti. Muita gente abençoar-te-á a cooperação. Despertarás o contentamento e a gratidão nas criaturas!...


– Não, não! – Protestou a argila – não quero! Seria condenar-me a tempo indefinido nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras de pessoas desclassificadas. Por favor, poupa-me! poupa-me!...

O oleiro cuidadoso considerou, preocupado:


– Que será de ti quando te conduzirem ao forno? Não passarás de matéria endurecida e informe, sem qualquer utilidade ou beleza. Sem sacrifício e sem disciplina, ninguém se eleva aos planos da vida superior.


O barro, todavia, recusou a advertência, bradando:


– Não aceito sacrifício, nem disciplina...


Antes que pudesse prosseguir, passou o enfornador arrebanhando a argila pronta, e o barro desobediente foi também conduzido ao forno em brasa.


Decorrido algum tempo, a lama vaidosa foi retirada e – ó surpresa! – Não era pote de laboratório, nem ânfora de perfume, nem prato de refeição, nem vaso para água e, sim, feio pedaço de terra requeimada e morta, sem qualquer significação, sendo imediatamente atirada ao pântano.


Assim acontece a muitas criaturas no mundo. Revoltam-se contra a vontade soberana do Senhor que as convida ao trabalho de aperfeiçoamento, mas, depois de levadas pela experiência ao forno da morte, transformam-se em verdadeiros fantasmas de desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo para retornarem às bênçãos da vida mais nobre.

In: “ALVORADA CRISTÔ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

quarta-feira, junho 21, 2006

A FALSA MENDIGA

Zezélia pedia esmolas, havia muitos anos.
Não era tão doente que não pudesse trabalhar, produzindo algo de útil, mas não se animava a enfrentar qualquer disciplina de serviço.
– Esmola pelo amor de Deus! – Clamava o dia inteiro, dirigindo-se aos transeuntes, sentada à porta de imundo telheiro.
De quando em quando, pessoas amigas, depois de lhe darem um níquel, aconselhavam:
– Zezélia, você não poderia plantar algum milho?
– Não posso... – respondia logo.
– Zezélia, quem sabe poderia você beneficiar alguns quilos de café?
– Quem sou eu, meu filho? Não tenho forças...
– Não desejaria lavar roupa e ganhar algum dinheiro? – Indagavam damas bondosas.
– Nem pensar nisto. Não aguento...
– Zezélia, vamos vender flores! – Convidavam algumas jovens que se compadeciam dela.
– Não posso andar, minhas filhas!... – Exclamava, suspirando.
– E o bordado, Zezélia? – Interrogava a vizinha, prestativa – você tem as mãos livres. A agulha é uma boa companheira. Quem sabe poderá ajudar-nos? Receberá compensadora remuneração.
– Não tenho os dedos seguros – informava, teimosa – e falta-me suficiente energia... Não posso, minha senhora...
E, assim, Zezélia vivia prostrada, sem ânimo, sem alegria.
Afirmava sentir dores por toda parte do corpo. Dava notícias da tosse, da tonteira e do resfriado com longas palavras que raras pessoas dispunham de tempo para ouvir. Além das lamentações contínuas, clamava que não bebia café por falta de açúcar, que não almoçara por não dispor de alimentação.
Tanto pediu, chorou e se queixou Zezélia que, em certa manhã, foi encontrada morta e a caridade pública enterrou-lhe o corpo com muita piedade.
Todos os vizinhos e conhecidos julgaram que a alma de Zezélia fora directamente para o Céu; entretanto, não foi assim.
Ela acordou no meio dum campo muito escuro e muito frio.
Achava-se sem ninguém e gritou, aflita, pelo socorro de Deus.
Depois de muito tempo, um anjo apareceu e disse-lhe, bondoso:
– Zezélia, que deseja você?
– Ah! – Observou, muito vaidosa – já sou conhecida na Casa Celestial?
– Há muito tempo – informou o emissário, compadecido.
A velha começou a chorar e rogou em pranto:
– Tenho sofrido muito!... Quero o amparo do Alto!...
– Mas, ouça! – Esclareceu o mensageiro – o auxílio divino é para quem trabalha. Quem não planta, nada tem a colher. Você não cavou a terra, não cuidou de plantas, não ajudou os animais, não fiou o algodão, não teceu fios, não costurou o pano, não amparou crianças, não fez pão, não lavou roupa, não varreu a casa, não cuidou de flores, não tratou nem mesmo de sua saúde e de seu corpo... Como pretende receber as bênçãos de Cima?
A infeliz observou, então:
– Nada podia fazer... eu era mendiga...
O anjo, contudo, replicou:
– Não, Zezélia! – Você não era mendiga! Você foi, simplesmente, preguiçosa. Quando aprender a trabalhar, chame por nós e receberá o socorro celeste.
Cerrou-se-lhe os olhos ao horizonte de luz e, às escuras, Zezélia voltou para a Terra, a fim de se renovar.

In ALVORADA CRISTÃ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

terça-feira, junho 20, 2006

UMA ESTRADA APENAS SUA!

Há uma estrada cujo único dono e senhor é Você: é a Estrada do Seu Pensamento.

Nela você também é o único vigilante rodoviário. Você já se aplicou algumas merecidas multas?

Note que a Estrada do Seu Pensamento pode ser percorrida do jeito que você quiser escolher.

Nela, as placas de sinalização é você quem faz e elas levá-lo-ão sempre para onde você deixar.

Perceba que lombadas e valetas também são colocadas por si, portanto você é o único responsável pelo conforto ou desconforto de suas " viagens ".

Você pode escolher as paisagens: árvores verdes e viçosas ou troncos secos e cheios de cupins.

Poderá, ainda, entrar por túneis ricamente iluminados ou pelos escuros e sombrios, pondo-se à mercê de atropelamentos, trombadas e graves acidentes.

Nela há também os passantes que é você quem escolhe, e eles poderão acompanhá-lo em suaves e repousantes passeios ou encher seu caminho das mais variadas pontiagudas e perigosas pedras.

Observe as rectas, as curvas, os atalhos, as bifurcações e os bloqueios que é você mesmo quem coloca.

A Estrada do Seu Pensamento não é de mão única, pois você pode retornar sempre que decidir.

Lembre-se que há pontos onde pode começar a insanidade ou a verdadeira saúde mental, a tristeza ou a alegria, a bênção ou a maldição, um recomeço, uma Nova Vida ou a queda para um amargo fim.

Aonde é que você quer chegar?

Há todo tipo de operários nessa estrada,


Mas você é o Chefe!

( Silvia Schmidt )

O AMOR...

Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse amor, seria como um bronze que soava como um címbalo que tine.

Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, eu nada seria.

Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que eu entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse amor, isso nada me adiantaria.

O amor é paciente, o amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta, não se enche de orgulho.

Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais passará.

Quanto às profecias, desaparecerão.

Quanto às línguas, cessarão.

Quanto à ciência, também desaparecerá.

Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia.

Mas quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança.

Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio de menino.

Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face.

Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido.

Agora, portanto, permanecem fé, esperança, amor.

A maior delas porém... é o amor.
***
Carta de Paulo Apóstolo aos Coríntios, Cap. 13
Seja a tua palavra clarão que ampare, chama que aquece, apoio que escore e bálsamo que restaure.

Da obra: “Brilhe Vossa Luz”

De F. C. Xavier, pelo espírito Emmanuel

sexta-feira, junho 16, 2006

O PIOR INIMIGO

Um homem, admirável pelas qualidades de trabalho e pelas formosas virtudes do carácter, foi visto pelos inimigos da Humanidade que conhecemos por Ignorância, Calúnia, Maldade, Discórdia, Vaidade, Preguiça e Desânimo, os quais tramaram, entre si, agir contra ele, conduzindo-o à derrota.

O honrado trabalhador vivia feliz, entre familiares e companheiros, cultivando o campo e rendendo graças ao Senhor Supremo pelas alegrias que desfrutava no contentamento de ser útil.

A Ignorância começou a cogitar da perseguição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações religiosas. Insulava-se no trato da terra, cheio de ambições desmedidas para enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons costumes.

O lavrador activo recebeu as notícias do adversário que operava, de longe, sorriu calmo e falou com sinceridade:

– A Ignorância está desculpada.

Surgiu, então, a Calúnia e denunciou-o às autoridades por espião de interesses estranhos. Aquele homem vivia, quase sozinho, para melhor se comunicar com vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas averiguações e, ao término do inquérito vexatório, a vítima afirmou sem ódio:

– A Calúnia estava enganada.

E trabalhou com dobrado valor moral.

Logo após, veio a Maldade, que o atacou de mais perto. Principiou a ofensiva, incendiando-lhe o campo. Destruiu-lhe milheirais enormes, prejudicou-lhe a vinha, poluiu-lhe as fontes. Todavia, o operário incansável, reconstruindo para o futuro, respondeu, sereno:

– Contra as sombras do mal, tenho a luz do bem.

Reconhecendo os perseguidores que haviam encontrado um espírito robusto na fé, instruíram a Discórdia que passou a assediá-lo dentro da própria casa. Provocações cercaram-no de todos os lados e, a breve tempo, irmãos e amigos da véspera relegaram-no ao abandono.

O servo diligente, dessa vez, sofreu bastante, mas ergueu os olhos para o Céu e falou:

– Meu Deus e meu Senhor, estou só, no entanto, continuarei agindo e servindo em Teu Nome. A Discórdia será por mim esquecida.

Apareceu, então, a Vaidade que o procurou nos aposentos particulares, afirmando-lhe:

– És um grande herói... Venceste aflições e batalhas! Serás apontado à multidão na auréola dos justos e dos santos!...

O trabalhador sincero repeliu-a, imperturbável:

– Sou apenas um átomo que respira. Toda a glória pertence a Deus!

Ausentando-se a Vaidade com desapontamento, entrou a Preguiça e, acariciando-lhe a fronte com mãos traiçoeiras, afiançou:

– Teus sacrifícios são excessivos... Vamos ao repouso! Já perdeste as melhores forças!...

Vigilante, contudo, o interpelado replicou sem hesitar:

– Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta.

Afastando-se a Preguiça vencida, o Desânimo compareceu. Não atacou de longe, nem de perto. Não se sentou na poltrona para conversar, nem lhe cochichou aos ouvidos. Entrou no coração do operoso lavrador e, depois de se instalar lá dentro, começou a perguntar-lhe:

– Esforçar-se para quê? Servir porquê? Não vês que o mundo está repleto de colaboradores mais competentes? Que razão justifica tamanha luta? Quem te mandou nascer nesse corpo? Não foi a determinação do próprio Deus? Não será melhor deixar tudo por conta de Deus mesmo? Que esperas? Sabes, acaso, o objectivo da vida? Tudo é inútil... não te lembras de que a morte destruirá tudo?

O homem forte e valoroso, que triunfara de muitos combates, começou a ouvir as interrogações do Desânimo, deitou-se e passou cem anos sem se levantar...

In ALVORADA CRISTÃ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

quinta-feira, junho 15, 2006

O CARNEIRO REVOLTADO...

Certo carneiro muito inteligente, mas indisciplinado, reparou os benefícios que a lã espalhava em toda parte, e, desde então, julgou-se melhor que os outros seres da Criação, passando a revoltar-se contra a tosquia.

– Se era tão precioso – pensava –, porque aceitar a humilhação daquela tesoura enorme?

Experimentava intenso frio, de tempos a tempos, e, despreocupado das ricas rações que recebia no redil, detinha-se apenas no exame dos prejuízos que supunha sofrer.

Muito amargurado, dirigiu-se ao Criador, exclamando:

– Meu Pai, não estou satisfeito com a minha pelagem. A tosquia é um tormento... Modifica-me, Senhor!...

O Todo-Poderoso indagou, com bondade:

– Que desejas que eu faça?

Vaidosamente, o carneiro respondeu:

– Quero que a minha lã seja toda de ouro.

A rogativa foi satisfeita. Contudo, assim que o orgulhoso ovino se mostrou cheio de pêlos preciosos, várias pessoas ambiciosas atacaram-no sem piedade. Arrancaram-lhe, violentamente, todos os fios, deixando-o em chagas.

O infeliz, a lastimar-se, correu para o Altíssimo e implorou:

– Meu Pai, muda-me novamente! Não posso exibir lã dourada, encontraria sempre salteadores sem compaixão.

O Sábio dos Sábios perguntou:

– Que queres que eu faça?

O animal, tocado pela mania de grandeza, suplicou:

– Quero que a minha lã seja lavrada em porcelana primorosa.

Assim foi feito. Entretanto, logo que tornou ao vale, apareceu no céu enorme ventania, que lhe quebrou todos os fios, dilacerando-lhe a carne.

Regressou, aflito, ao Todo-Misericordioso e queixou-se:

– Pai, renova-me!... A porcelana não resiste ao vento... estou exausto...

Disse-lhe o Senhor:

– Que desejas que eu faça?

– A fim de não provocar os ladrões e nem me ferir com porcelana quebrada, quero que a minha lã seja feita de mel.

O Criador satisfez o pedido. Todavia, logo que o pobre se achou no redil, bandos de moscas asquerosas cobriram-no em cheio e, por mais corresse campo afora, não evitou que elas lhe sugassem os fios adocicados.

O mísero voltou ao Altíssimo e implorou:

– Pai, modifica-me... as moscas deixaram-me em sangue!

O Senhor indagou, de novo, com inexaurível paciência:

– Que queres que eu faça?

Dessa vez, o carneiro pensou mais tempo e considerou:

– Suponho que seria mais feliz se tivesse minha lã semelhante às folhas de alface.

O Todo-Bondoso atendeu-lhe mais uma vez a vontade e o carneiro voltou à planície, na caprichosa alegria de parecer diferente. No entanto, quando alguns cavalos lhe puseram os olhos, não conseguiu melhor sorte, Os equinos prenderam-no com os dentes e, depois de lhe comerem a lã, abocanharam-lhe o corpo.

O carneiro correu na direcção do Juiz Supremo, gotejando sangue das chagas profundas, e, em lágrimas, gemeu, humilde:

– Meu Pai, não suporto mais!...

Como soluçasse longamente, o Todo-Compassivo, vendo que ele se arrependera com sinceridade, observou:

– Reanima-te, meu filho! Que pedes agora?

O infeliz replicou, em pranto:

– Pai, quero voltar a ser um carneiro comum, como sempre fui. Não pretendo a superioridade sobre meus irmãos. Hoje sei que os meus tosquiadores de outro tempo são meus verdadeiros amigos. Nunca me deixaram em feridas e sempre me deram de comer e beber, carinhosamente... Quero ser simples e útil, qual me fizeste, Senhor!...

O Pai sorriu, bondoso, abençoou-o com ternura e falou:

– Volta e segue teu caminho em paz. Compreendeste, enfim, que meus desígnios são justos. Cada criatura está colocada, por minha Lei, no lugar que lhe compete e, se pretendes receber, aprende a dar.

Então o carneiro, envergonhado, mas satisfeito, voltou para o vale, misturou-se com os outros e daí por diante foi muito feliz.

In ALVORADA CRISTÃ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio
)

COMEÇAR DE NOVO

Foto: Emmanuel (Espírito)

Erros passados, tristezas contraídas, lágrimas choradas, desajustes crónicos!...

Às vezes, acreditas que todas as bênçãos jazem extintas, que todas as portas se mostram cerradas à necessária renovação!...

Esqueces-te, porém, de que a própria sabedoria da vida determina que o dia se refaça cada amanhã.

Começar de novo é o processo da Natureza, desde a semente singela ao gigante solar.

Se experimentaste o peso do desengano, nada te obriga a permanecer sob a corrente do desencanto. Reinicia a construção de teus ideais, em bases mais sólidas, e torna ao calor da experiência, a fim de acalentá-los na plenitude de forças novas.

O fracasso visitou-nos em algum tentame de elevação, mas isso não é motivo para desgosto e auto piedade, porquanto, frequentemente, o malogro de nossos anseios significa ordem do Alto para mudança de rumo, e começar de novo é o caminho para o êxito desejado.

Temos sido desatentos, diante dos outros, cultivando indiferença ou ingratidão; no entanto, é perfeitamente possível refazer atitudes e começar de novo a plantação da simpatia, oferecendo bondade e compreensão àqueles que nos cercam.

Teremos perdido afeições que supúnhamos inalteráveis; todavia, não será justo, por isso, que venhamos a cair em desânimo. O tempo permite-nos começar de novo, na procura das nossas afinidades autênticas, aquelas afinidades susceptíveis de nos insuflar coragem para suportar as provações do caminho e assegurar-nos o contentamento de viver.

Desfaçamo-nos de pensamentos amargos, das cargas de angústia, dos ressentimentos que nos alcancem e das mágoas requentadas no peito! Descerremos as janelas da alma para que o sol do entendimento nos higienize e reaqueça a casa íntima.

Tudo na vida pode ser começado de novo para que a lei do progresso e de aperfeiçoamento se cumpra em todas as direcções.

Efectivamente, em muitas ocasiões, quando desprezamos as oportunidades e tarefas que nos são concedidas na Obra do Senhor, voltamos tarde a fim de as revisar e reassumi-las, mas nunca será tarde demais.

(Do livro: "Alma e Coração", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito de Emmanuel)

quarta-feira, junho 14, 2006

ABRE...

Abre os olhos, para ver as obras do senhor.

Crer, que por mais bela que seja uma flor,
Por mais indescritível que seja a paisagem do campo,

Se não tiveres amor, nos teus caminhos só haverá prantos.

Abre os ouvidos,
Para ouvir e praticar a palavra do senhor.

No mundo há muitos convites:

Pra vaidades, frustrações e pra dor.

O tempo não espera a tua decisão e somente a palavra de Deus, te dará a salvação.

Abre tua alma, o senhor te espera de braços abertos.

Ele conhece as tuas necessidades e os desejos do teu coração.

Ama a Deus sobre todas as coisas e não ouses julgar, nem maltratar teu irmão.

Pois todo homem é filho de Deus, assim como é filha de Deus, toda criação!
***
Recebido de minha Amiguinha: Fernanda Nunes

terça-feira, junho 13, 2006

A GENEROSIDADE É...

"A generosidade é mais do que dar dinheiro ou coisas materiais.

É dar o próprio Eu, que não tem preço.

Doação feita no espírito de colocar os outros na frente.

Aqueles que abraçam a simplicidade doam o seu tempo livremente aos outros.

Tal é feito com gentileza, abertura, intenções puras e sem expectativas ou condições.

É o Amor Incondicional (Universal)... o único!

As sementes das acções generosas dão frutos abundantes."

Por: BK Andatta

Acrescido e adaptado ao Português de Portugal por:
Guerreiro da Luz!

quinta-feira, junho 08, 2006

O ENSINAMENTO VIVO

Foto: Chico Xavier

Ao observar qualquer edificação ou serviço, Maria Cármen não faltava à crítica.

Perante um vestido das amigas, exclamava sem cerimónia:
– O conjunto é tolerável, mas as particularidades deixam muito a desejar. A gola foi extremamente malfeita e as mangas estão defeituosas.


Junto de um móvel qualquer, rematava as observações irónicas com a frase:
– Não poderiam fazer coisa melhor? E, à frente de qualquer obra de arte, encontrava traços e ângulos para condenar.


A Mãezinha, preocupada, estudou recursos para lhe dar proveitoso ensinamento.

Foi assim que, certa manhã, convidou a filha a visitar, na sua companhia, a construção de um edifício de vastas linhas. A jovem, que não podia adivinhar-lhe o plano, seguiu-a, surpreendida.

Percorreram algumas ruas e pararam diante do arranha-céus em construção.

A senhora pediu a colaboração do engenheiro-chefe e passou a mostrar à filha os vários departamentos. Enquanto muitos servidores abriam acomodações para os alicerces, no chão duro, manobrando picaretas, veículos pesados transportavam terra daqui para ali, com rapidez e segurança. Pedreiros começavam a erguer paredes, suarentos e ágeis, sob a atenciosa vigilância dos técnicos que orientavam os trabalhos. Camiões e carroças traziam material de mais longe.

Carregadores corriam na execução do dever.

O director das obras, convidado pela matrona a pronunciar-se sobre a edificação, esclareceu, gentil:
– Seremos obrigados a inverter volumoso capital para resgatar as despesas. Requisitaremos, ainda, a colaboração de centenas de trabalhadores especializados. Carpinteiros, estucadores, vidraceiros, pintores, bombeiros e electricistas virão completar-nos o serviço.


Qualquer construção reclama toda uma falange de servos dedicados.

A menina, revelando-se impressionada, respondeu:
– Quanta gente a pensar, a cooperar e servir!...
– Sim – considerou o chefe, sorrindo expressivamente –, Construir é sempre muito difícil.


Logo após, mãe e filha apresentaram as despedidas, encaminhando-se, agora, para velho bairro.

Vararam algumas travessas e praças menos agradáveis e chegaram à frente de antiga casa em demolição. Viam-se-lhe as linhas nobres, no estilo colonial, através das alas que ainda se achavam de pé. Um homem, apenas, ali se encontrava, usando martelo de tamanho gigantesco, abatendo alvenaria e madeirame.

Ante a queda das paredes a ruírem com estrondo, de minuto a minuto, a jovem observou:
– Como é terrível arruinar, deste modo, o esforço de tantos!


A Mãezinha serena interveio, então, e falou, conselheiramente:
– Chegámos, filha, ao fim do ensinamento vivo que buscamos. Toda a realização útil na Terra exige a paciência e o suor, o trabalho e o sacrifício de muita gente. Edificar é muito difícil. Mas destruir e eliminar é sempre muito fácil. Bastará uma pessoa de martelo na mão para prejudicar a obra de milhares. A crítica destrutiva é um martelo que usamos criminosamente, ante o respeitável esforço alheio. Compreendeu?


A jovem fez um sinal afirmativo com a cabeça e, daí em diante, procurou ajudar a todos ao invés de macular, desencorajar e ferir.

In ALVORADA CRISTÃ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)