quarta-feira, dezembro 21, 2005

MEDIUNIDADE

Esmagadora maioria dos estudantes do Espiritismo situam na mediunidade a pedra basilar de todas as edificações doutrinárias, mas cometem o erro de considerar por médiuns tão-somente os trabalhadores da fé renovadora, com tarefas especiais, ou os doentes psíquicos que, por vezes, servem admiravelmente à esfera das manifestações fenoménicas.

Antes de tudo, é preciso compreender que tanto quanto o tacto é o alicerce inicial de todos os sentidos, a intuição é a base de todas as percepções espirituais e, por isso mesmo, toda a inteligência é médium das forças invisíveis que operam no sector de actividade regular em que se coloca.

Dos círculos mais baixos aos mais elevados da vida, existem entidades angélicas, humanas e sub-humanas, agindo através da inteligência encarnada, estimulando o progresso e divinizando experiências, brunindo caracteres ou sustentando abençoadas reparações, protegendo a natureza e garantindo as leis que nos governam.

Desvendando conhecimentos novos à Humanidade, o Espiritismo incorpora ao nosso património mental valiosas informações sobre a vida imperecível, indicando a nossa posição de espíritos imortais em temporário aprendizado, nas classes da raça, da nação e do grupo consanguíneo a que transitoriamente pertencemos na Terra.

Cada individualidade renasce em ligação com os centros de vida invisível do qual procede, e continuará, de modo geral, a ser instrumento do conjunto em que mantém suas concepções e seus pensamentos habituais. Se deseja, porém, aproveitar a contribuição que a escola sublime do mundo lhe oferece, nos seus cursos diversos de preparação e aperfeiçoamento, aplicando-se à execução do bem, nos menores ângulos do caminho, adquirindo mais amplas provisões de amor e sabedoria, é aceite pelos grandes benfeitores do mundo, nos quadros da evolução humana, por intérprete da assistência divina, onde quer que se encontre, seja na construção do património de conforto material ou na santificação da alma eterna.

É necessário, contudo, reconhecer que, na esfera da mediunidade, cada servidor se reveste de características próprias.

O conteúdo sofrerá sempre a influência da forma e da condição do recipiente.

Essa é a lei do intercâmbio.

Uma taça não guardará a mesma quantidade de água, susceptível de ser sustentada numa caixa com capacidade para centenas de litros.

O perfume conservado no frasco de cristal puro não será o mesmo, quando transportado num vaso guarnecido de Iodo.

O sábio não poderá tomar uma criança para confidente, embora a criança, invariavelmente, detenha consigo tesouros de pureza e simplicidade que o sábio desconhece.

Mediunidade, pois, para o serviço da revelação divina reclama estudo constante e devotamento ao bem para o indispensável enriquecimento de ciência e virtude.

A ignorância poderá produzir indiscutíveis e belos fenómenos, mas só a noção de responsabilidade, a consagração sistemática ao progresso de todos, a bondade e o conhecimento conseguem materializar na Terra os monumentos definitivos da felicidade humana.

In ROTEIRO (Francisco Cândido Xavier/Emmanuel)

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