quinta-feira, setembro 14, 2006

O LIVRO DIVINO

Gemia a Terra humilhada,
A noite do cativeiro
Dominava o mundo inteiro
Sob o carro da opressão;
Com mandíbulas vorazes
De loba que se subleva,
Roma, encharcada de treva,
Estendia a escravidão.

Entre as águias poderosas,
Jazia Atenas vencida,
Carpia Cartago a vida
Ligada a grilhão cruel.
Na Capadócia, na Trácia,
Na Mauritânia e no Egipto,
O povo chorava aflito,
Tragando cicuta e fel.

O frio invadira os templos,
Não mais Eros de olhar brando,
Nem bela Afrodite amando,
Nem Apolo encantador;
O Olimpo dormira em sombra,
Cessara a graça de Elêusis,
Não surgiam outros deuses,
Que não fossem do terror.

Mas quando o mal atingira
O apogeu da indiferença,
Disse Deus na altura imensa:
«Faça-se agora mais luz!»
E um livro desceu brilhando,
Para a História envilecida:
Era o Evangelho da Vida,
Sob as lições de Jesus.

Tremeram dourados sólios,
O orgulho caiu de rastros;
Arcanjos vinham dos astros
Em cânticos de louvor.
Mas ao invés da vingança,
Contra o ódio, contra a guerra,
O Livro pedia à Terra:
Bondade, Perdão e Amor...

Começara o novo Reino...
Horizontes infinitos
Descerraram-se aos aflitos,
Perdidos nos escarcéus;
Os fracos e os desditosos,
Os tristes e os deserdados,
Contemplaram, deslumbrados
Novos mundos, novos céus.

Desde então a Humanidade
Trabalha, cresce, porfia,
Ao clarão do novo dia,
Por escalar outros sóis;
E a mensagem continua,
Em sublimes resplendores,
Formando Renovadores,
Artistas, Santos e Heróis.

Espíritas, companheiros
Da grande Luz Restaurada,
Tracemos a nossa estrada,
Na glória, do amor cristão;
E servindo alegremente
Na luta, na dor, na prova,
Busquemos na Boa-Nova
O Livro da Redenção.

Castro Alves

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

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