segunda-feira, julho 24, 2006

NO PASSEIO MATINAL...

Dionísio, o moleiro, muito cedo partiu em companhia do filhinho, na direcção de grande milheiral.

A manhã fizera-se linda.


Os montes próximos pareciam vestidos em gaze esvoaçante.

As folhas da erva, guardando, ainda, o orvalho nocturno, assemelhavam-se a caprichoso tecido verde, enfeitado de pérolas. Flores vermelhas, aqui e ali, davam a ideia de jóias espalhadas no chão.

As árvores, muito grandes, à beira da estrada, despertavam, de leve, à passagem do vento.

O Sol aparecia, brilhante, revestindo a paisagem numa coroa resplandecente.

Reinaldo, o pequeno guiado pela mão paterna, seguia num deslumbramento. Não sabia o que mais admirar: se o lençol de neblina muito alva, se o horizonte inflamado de luz. Em dado momento, perguntou, feliz:

– Papai, de quem é todo este mundo?

– Tudo pertence ao Criador, meu filho – esclareceu o moleiro, satisfeito – o Sol, o ar, as águas, as árvores e as flores, tudo, tudo, é obra d’Ele, nosso Pai e Senhor.

– Para quê tudo isto? – Continuou o petiz contente.

– A fim de recebermos esta escola divina, que é a Terra.

– Escola?

– Sim, filho – tornou o progenitor paciente –, aqui devemos aprender, no trabalho, a amar-nos uns aos outros, aprimorando sentimentos, quanto devemos aperfeiçoar o solo que pisamos, transformando colinas, planícies e pedras em cidades, fazendas, estábulos, pomares, milheirais e jardins.

Reinaldo não entendeu, de pronto, o que significava “aprimorar sentimentos”; contudo, sabia perfeitamente o que vinha a ser a remoção dum monte empedrado. Surpreso, voltou a indagar:

– Então, papai, somos obrigados a trabalhar tanto assim? Como será possível modificar este mundo tão grande?

O moleiro pensou alguns instantes e observou:

– Meu filho, já ouvi dizer que uma andorinha vagueava só, quando notou que um incêndio lavrava no seu campo predilecto, O fogo consumia plantas e ninhos. Em vão, gritou por socorro.

Reconhecendo que ninguém lhe escutava as súplicas, pôs-se rápida para o córrego não distante, mergulhando as pequenas asas na água fria e límpida; daí, voltava para a zona incendiada, sacudindo as asas molhadas sobre as chamas devoradoras, procurando apagá-las. Repetia a operação, já por muitas vezes, quando se aproximou um gavião preguiçoso, indagando-lhe com ironia:

– “Você, em verdade, acredita combater um incêndio tão grande com algumas gotas d’água?” A avezinha prestativa, porém, respondeu, calma: – “É provável que eu não possa fazer a obra toda; entretanto, sou imensamente feliz cumprindo o meu dever.

O moleiro fez uma pausa e interrogou o filho:

– Não acreditas que podemos imitar semelhante exemplo? Se todos procedêssemos como a andorinha operosa e vigilante, em pouco tempo toda a Terra estaria transformada num paraíso.
O menino calou-se, entendendo a extensão do ensinamento e, no íntimo, contemplando a beleza do quadro matinal, desde as margens do caminho até à montanha distante, prometeu a si mesmo que procuraria cumprir no mundo todas as obrigações que lhe coubessem na obra sublime do Infinito Bem.

In: “ALVORADA CRISTÔ (Francisco Cândido Xavier/Neio Lúcio)

Sem comentários: