quinta-feira, janeiro 12, 2006

EM ORAÇÃO

Na véspera da partida do Senhor, no rumo de Sidon, o culto do Evangelho, na residência de Pedro, revestiu-se de justificável melancolia.

As actividades do estudo edificante prosseguiram, mas o trabalho da revelação, de algum modo, experimentaria interrupção natural.

A leitura de comoventes páginas de Isaías foi levada a efeito por Mateus, com visível emotividade; entretanto, nessa noite de despedidas, ninguém formulou qualquer indagação.

Intraduzível expectativa pairava no semblante de todos.

O Mestre, por si, absteve-se de qualquer comentário, mas, no término da reunião, levantou os olhos lúcidos para o Céu e suplicou fervorosamente:

- Pai, acende a Tua Divina Luz em torno de todos aqueles que Te olvidaram a bênção, nas sombras da caminhada terrestre.

- Ampara os que se esqueceram de repartir o pão que lhes sobra na mesa farta.

- Ajuda os que não se envergonham de ostentar felicidade, ao lado da miséria e do infortúnio.

- Socorre os que não se lembram de agradecer aos benfeitores.

- Compadece-te daqueles que dormiram nos pesadelos do vício, transmitindo herança dolorosa aos que iniciam a jornada humana.

- Levanta os que olvidaram a obrigação de serviço ao próximo.

- Apieda-te do sábio que ocultou a inteligência entre as quatro paredes do paraíso doméstico.

- Desperta os que sonham com o domínio do mundo, desconhecendo que a existência na carne é simples minuto entre o berço e o túmulo, à frente da Eternidade.

- Ergue os que caíram vencidos pelo excesso de conforto material.

- Corrige os que espalham a tristeza e o pessimismo entre os semelhantes.

- Perdoa aos que recusaram a oportunidade de pacificação e marcham disseminando a revolta e a indisciplina.

- Intervém a favor de todos os que se acreditam detentores de fantasioso poder e supõem loucamente absorver-te o juízo, condenando os próprios irmãos.

- Acorda as almas distraídas que envenenam o caminho dos outros com a agressão espiritual dos gestos intempestivos.

- Estende paternais mãos a todos os que olvidaram a sentença de morte renovadora da vida que a tua lei lhes gravou no corpo precário.

- Esclarece os que se perderam nas trevas do ódio e da vingança, da ambição transviada e da impiedade fria, que se acreditam poderosos e livres, quando não passam de escravos, dignos de compaixão, diante de teus sublimes desígnios.

- Eles todos, Pai, são delinquentes que escapam aos tribunais da Terra, mas estão assinalados por Tua Justiça Soberana e Perfeita, por delitos de esquecimento, perante o Infinito Bem...
A essa altura, interrompeu-se a rogativa singular.


Quase todos os presentes, inclusive o próprio Mestre, mostravam lágrimas nos olhos e, no alto, a Lua radiosa, em plenilúnio divino, fazendo incidir seus raios sobre a modesta vivenda de Simão, parecia clamar sem palavras que muitos homens poderiam viver esquecidos do Supremo Senhor; entretanto, o Pai de Infinita Bondade e de Perfeita Justiça, amoroso e recto, continuaria velando...

(In: “Jesus no Lar” por: Médium: Francisco Cândido Xavier/Espírito: Neio Lúcio

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