segunda-feira, setembro 25, 2006

POEMA DE GRATIDÃO



















Lembra-me, Mãe querida, a glória que me deste,
A alegria do lar no lençol de cravinas,
A mesa, o livro, o pão e as canções cristalinas,
As preces de ninar, no humilde berço agreste.

Ao perder-te, no mundo, o carinho celeste,
Vendo-te as mãos em cruz, quais flores pequeninas,
Fui chorar-te, debalde, ao pé das casuarinas,
Buscando-te a presença entre a lousa e o cipreste!...

Entretanto, do Além, caminhavas comigo,
Vinhas, a cada passo, anjo piedoso e amigo,
Guardar-me o coração na fé radiante e calma;

E, quando a morte veio expor-me à noite escura,
Solucei de alegria, em preces de ternura,
Revendo-te na luz, conduzindo minha'alma!...


Abílio Barreto

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

sexta-feira, setembro 22, 2006

CONVERSA EM CASA










O suor da paciência
Encontra a luz por remate.
Não há provação difícil,
O medo é que nos abate.
*
Conserva-te nobre e simples
Para que o bem não se torça.
Muita vez, a ingenuidade
É grande sinal de força.
*
Venceste? Trabalha sempre,
Sem detenção no passado.
O herói que vive da fama
É um vivo-morto enfeitado.
*
No que tange a confidências,
Fala a Deus em tua prece.
Quem melhor guarda um segredo
É aquele que o desconhece.
*
Cultiva a recta intenção
Na tua própria defesa.
Mesmo vítima do engano,
Sinceridade é grandeza.
*
Onde tens o coração
Reténs o próprio tesouro.
O dinheiro que escraviza
É dura algema de ouro.
*
Compra, guarda e ajunta livros,
Mas estuda, dia a dia.
Mostrar a biblioteca,
Não mostra sabedoria.
*
Perdoa e ajuda amparando
Como as terras generosas,
Que dão, em troco de estrume,
Pão e bênção, vida e rosas.

Casimiro Cunha

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

quinta-feira, setembro 21, 2006

LIBERDADE













Para ser livre da mundana escória,
E alcançar a amplidão rútila, e bela,
Vence os rijos furores da procela
Que te freme na carne transitória.

Despe os adornos da ilusão corpórea
E abraça a estranha e rígida tutela
Da aflição que te humilha e te flagela,
Por teu caminho de esperança e glória.

Agrilhoado à cruz do próprio sonho,
Vara as trevas do báratro medonho,
Nos supremos martírios da ansiedade!...

E, ave distante dos terrestres limos,
Celebrarás na pompa de Áureos Cimos,
A conquista da Eterna Liberdade.

Cruz e Souza

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

quarta-feira, setembro 20, 2006

O POÇO E A ROSEIRA


















O poço retratava a roseira tristonha
E pensava consigo: «Ah! terríveis chavelhas!
Espinheiro infernal, quanta maldade espelhas!...
Lâminas e punhais, infortúnios e vergonha...»

A roseira, porém, como quem serve e sonha,
Expandiu-se e lançou lindas jóias vermelhas,
Astro verde a luzir em formosas centelhas,
E o poço, a condenar, fêz-se charco e peçonha!...

A cisterna infeliz, no desvão da chapada,
Apodreceu, por fim, preguiçosa e estagnada,
Mas a planta floriu ao sol do Grande Todo.

Alma, edifica e segue, abençoa e auxilia...
Mal que procura o bem faz-se bem, dia-a-dia,
Mal que fica no mal faz-se tóxico e lodo.

António Félix

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

quinta-feira, setembro 14, 2006

O LIVRO DIVINO

Gemia a Terra humilhada,
A noite do cativeiro
Dominava o mundo inteiro
Sob o carro da opressão;
Com mandíbulas vorazes
De loba que se subleva,
Roma, encharcada de treva,
Estendia a escravidão.

Entre as águias poderosas,
Jazia Atenas vencida,
Carpia Cartago a vida
Ligada a grilhão cruel.
Na Capadócia, na Trácia,
Na Mauritânia e no Egipto,
O povo chorava aflito,
Tragando cicuta e fel.

O frio invadira os templos,
Não mais Eros de olhar brando,
Nem bela Afrodite amando,
Nem Apolo encantador;
O Olimpo dormira em sombra,
Cessara a graça de Elêusis,
Não surgiam outros deuses,
Que não fossem do terror.

Mas quando o mal atingira
O apogeu da indiferença,
Disse Deus na altura imensa:
«Faça-se agora mais luz!»
E um livro desceu brilhando,
Para a História envilecida:
Era o Evangelho da Vida,
Sob as lições de Jesus.

Tremeram dourados sólios,
O orgulho caiu de rastros;
Arcanjos vinham dos astros
Em cânticos de louvor.
Mas ao invés da vingança,
Contra o ódio, contra a guerra,
O Livro pedia à Terra:
Bondade, Perdão e Amor...

Começara o novo Reino...
Horizontes infinitos
Descerraram-se aos aflitos,
Perdidos nos escarcéus;
Os fracos e os desditosos,
Os tristes e os deserdados,
Contemplaram, deslumbrados
Novos mundos, novos céus.

Desde então a Humanidade
Trabalha, cresce, porfia,
Ao clarão do novo dia,
Por escalar outros sóis;
E a mensagem continua,
Em sublimes resplendores,
Formando Renovadores,
Artistas, Santos e Heróis.

Espíritas, companheiros
Da grande Luz Restaurada,
Tracemos a nossa estrada,
Na glória, do amor cristão;
E servindo alegremente
Na luta, na dor, na prova,
Busquemos na Boa-Nova
O Livro da Redenção.

Castro Alves

In POETAS REDIVIVOS (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)

segunda-feira, setembro 04, 2006

TRABALHO










(Foto: Eléctrico, cidade de Lisboa-Portugal)

TRABALHO

Trabalho – a santa oficina
De que a vida se engalana –
É a glória da luta humana
De que a Terra se ilumina.

Escola, templo, doutrina
De que a alegria promana,
Serviço é força que irmana,
Cria, eleva, disciplina.

Preguiça imita a gangrena,
Estraga, arrasa, envenena
Onde vazia se enfuna.

Quem vive só de poltrona
Não melhora, nem se abona
E à morte se mancomuna.

Alfredo Nora

In: “POETAS REDIVIVOS” (Francisco Cândido Xavier/Diversos Espíritos)