segunda-feira, outubro 31, 2005

ANTE OS QUE PARTIRAM...

Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporte para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito de um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.

Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rolaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tactearam, gemendo a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia no ádito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram.

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos estão apenas ausentes e as gotas de teu pranto fustigam-lhes a alma como chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desenvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram...

Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afectivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.

Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhe diz respeito.

Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias. Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.

Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.

E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.

EMMANUEL

(Do Livro “Religião dos Espíritos”. 58, Francisco Cândido Xavier, FEB)

2 comentários:

Dad disse...

Lindo texto. Que bom seria que todos pensassem que a "morte" é ilusória e não sofressem assim tanto com a distância. O empo e o espaço diluem-se quando amamos alguém...
Na morte, essa compreensão deveria permanecer intacta, deixando que cada alma prosseguisse o seu caminho...
Um abraço,

A CAMINHO DA LUZ! disse...

Querida dad...

Pena que muito poucos saibam desse pedaçao da Verdade...

Por outro lado, maior pena não ser ela totalmente conhecida!!!

Tão fácil chegar ao seu entendimento, mas... a soberania do livre-arbítrio... por não querer apreendê-la, atira o seu titular para os caminhos do martírio e infelicidade...

Mesmo que nos doa, nada podemos fazer por esses... sem sua prévia autorização!

O Amor dá-se, não se impõe... por isso... até Deus sabe que tem de esperar que Seus filhos... O queirem aceitar!