quinta-feira, setembro 15, 2005

COMO SURGE NA TERRA UM SER DE LUZ!

Adolfo Bezerra de Menezes

Conhecido no Movimento Espírita como Bezerra de Menezes, nasceu na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de Agosto de 1831 e desencarnou no Rio de Janeiro a 11.04.1900.

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, se preparou suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação.

Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, aos seus companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor da classe nos seus impedimentos.

Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, António Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado carácter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação.

Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para lhe explorar os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna.


Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e propôs-lhes entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida.

Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-lhe que pagasse como e quando quisesse.

O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações.

Animado do firme propósito de se orientar pelo carácter íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina.

Em Novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes.

A 27 de Abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento".

O parecer foi lido pelo relator designado, Académico José Pereira Rego, a 11 de Maio de 1857, tendo a eleição se efectuado a 18 de Maio do mesmo ano e a posse a 10 de Junho. Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina.


Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião-Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-Tenente.

Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve a sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser médico militar.

Objectivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar-se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado na lista tríplice para uma cadeira no Senado.

Quando político, levantou-se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que possuía.

Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.

Desviado interinamente da actividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro.

Depois, empenhou-se na construção da via-férrea de S. António de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até ao Rio Doce.

Era um dos directores da Companhia Arquitectónica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topónimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.

Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória.

O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distracção para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto...

Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia.


Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos".

Preocupei-me seriamente com este facto maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".


No dia 16 de Agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, actual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atónito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo.

Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em Janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo.

Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos domingos, no "O Paiz" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo".

O Senador Quintino Bocaiúva, director daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.


Os artigos de Max, pseudónimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De Novembro de 1886 a Dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente.

Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogónica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro – o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do Futuro".

Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi um dos redactores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redactor do jornal "Sentinela da Liberdade".


Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta.

O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura.


Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida."

Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.

Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autónoma. Cada um deles exercia a sua actividade num determinado sector, sem conhecimento das actividades dos demais.

Esse sentimento levou-os à fundação da Federação Espírita Brasileira.

Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a "Académica", a "Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira", entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.

Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições.

O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro viu-se desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único frequentador do Centro.


A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.

Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades, espíritas ou não.

No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz".

Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar o movimento espírita.

O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação.

Iniciava-se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía.

Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo.

Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de forma directa.

Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...


Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar-lhe a última visita.

No dia 17 de Abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se promover espectáculos e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro”.

3 comentários:

A CAMINHO DA LUZ! disse...

Que o Exemplo deste Irmão, nos movimente e dê forças!

Paz e Luz!

Guerreiro da Luz

Luz Dourada disse...

Só agora consegui ler a história de vida do Dr. Bezerra de Menezes e gostei de conhecê-la, pois já era sua amiga mas não sabia senão que tinha sido um grande médico e um homem bom.

A CAMINHO DA LUZ! disse...

Por vezes pedem-me para não colocar textos demasiado extensos.

Compreendo, em parte, a posição de quem me fez tal pedido.

Mas... neste caso, tratando-se de uma Biografia tão brilhante e, em outros casos, quando está em causa o princípio, o meio e o fim de algo que devemos saber ou conhecer pelo TODO, não posso cortar, pois que, se isso fizer, estarei simplesmente a amputar.

Aos que me fizeram o pedido... deixo um conselho: façam o copy do artigo para o vosso disco duro e, leiam-no, depois, aos poucos...

Vale assim?

Abraços de Paz.

Guerreiro da Luz!